Meditação de contemplação da mudança

A contemplação da mudança

O livro A mente serena traz práticas que podemos incorporar em nossas vidas e usa uma linguagem acessível para qualquer pessoa, mesmo as que não têm nenhum conhecimento sobre budismo ou meditação. Hoje selecionei um trechinho pra vocês. É uma parte do capítulo Meditações de contemplação.
 
O segundo passo da meditação analítica é compreender a natureza da mudança e seus diferentes tipos – pequeno, grande e contínuo. A maioria de nós percebe as mudanças grandes, como o fim de um relacionamento, a perda de um emprego ou o envelhecimento. Mas há mudanças pequenas ocorrendo a cada segundo que, por sua vez, levam a essas mudanças grandes. São tão pequenas e rápidas que não as percebemos; todos os dias nossos corpos mudam e, em certo momento, acordamos e parecemos velhos. Olhamos para um casal que está junto por cinquenta anos e pensamos como é maravilhoso que ainda sejam os mesmos; mas um relacionamento longo passa por mudanças contínuas ao longo dos anos, passa por tempos bons e difíceis, por altos e baixos naturais. Todo relacionamento se baseia nas emoções de duas pessoas e, assim, nunca é perfeitamente estável.
Pense sobre como o mundo muda a cada segundo. Um bom lugar para começar é observando as estações – as mudanças na natureza entre primavera, verão, outono e inverno; a mudança na cor das folhas, na temperatura, o que cresce no solo. E da mesma forma que a cada dia há mudanças na estação, o mundo muda, nossos relacionamentos mudam e mesmo nosso corpo passa constantemente por mudanças diminutas.
Usamos as seguintes palavras para que nossas mentes fiquem atentas à natureza da mudança. Podemos recitá-las em voz alta ou lê-las silenciosamente, enquanto pensamos em seu sentido:

 

  • Tudo que nasce necessariamente morre.
  • Tudo que for acumulado um dia será consumido.
  • Toda reunião se dispersará.
  • Toda construção um dia cairá.
  • Os amigos podem mudar.
  • Os inimigos podem mudar.
  • A felicidade vai mudar.
  • O sofrimento vai mudar.
  • Os conceitos vão mudar.
  • As emoções vão mudar.
  • O que quer que tenha acontecido ontem hoje é um sonho.
  • O que quer que vivenciemos hoje amanhã será um sonho.
É de grande ajuda nessa prática contemplarmos um rio desaguando no mar. Compreendemos que é sempre um rio e, ainda assim, a cada momento muda – nunca é exatamente o mesmo. Também o nascer e o pôr do sol são úteis para esse exercício, já que um nunca é igual ao outro e nos fazem lembrar da natureza passageira do tempo. E essa é a verdade da vida – que não há nada que possamos controlar de modo permanente: não conseguimos fazer com que as pessoas sejam exatamente como queremos, o tempo todo; não somos sequer capazes de organizar nossas vidas para que sejam exatamente como gostaríamos que fosse, tampouco podemos fazer isso com nossas mentes. As coisas mudam e é por isso que a vida é tão preciosa.    
Nessa parte da meditação nos lembramos de que o que vemos como constante em nossas vidas ou dentro de nós mesmos é só uma projeção de nossas mentes. Pensemos num relacionamento duradouro: podemos percebê-lo como constante e sólido, mas a cada dia ele cresce e muda, enquanto as emoções de dois indivíduos se unem vez após vez. Quando nos conscientizamos de que a mudança é constante, a aceitamos melhor, ficamos mais flexíveis e adaptáveis. Desenvolvemos nossa mente para ela ser aberta às oportunidades, mais ágil e mais receptiva. Podemos também usar essa prática para compreender que, se estamos passando por tempos difíceis, eles não serão permanentes, e, assim, nossas reações habituais podem ser mais facilmente superadas. Quando alguém nos deixa com muita raiva, não precisamos, necessariamente, nos agarrar a ela, podemos nos soltar no fluxo do rio e mudarmos de atitude. Ou quando  cometemos um erro no trabalho, poderemos ficar presos na culpa e na vergonha ou, simplesmente, ficarmos felizes por termos esse conhecimento e, de agora em diante, tentarmos fazer o melhor possível.

     Esta meditação é muito importante quando praticada em conjunto com a meditação da apreciação, uma vez que, à medida que descobrimos nossa felicidade através da apreciação, é com a compreensão da mudança contínua que nos preparamos para os altos e baixos da vida – não importa o quanto tentemos nos segurar às coisas, elas sempre mudam. Da mesma forma, se apenas pensarmos sobre a mudança, sem a apreciação, começamos a nos sentir deprimidos – se tudo muda, por que seguirmos nos esforçando? Apenas vamos nos desapontar. Mas se combinamos as duas meditações, elas criam um bom equilíbrio: apreciamos e desfrutamos o que temos agora e, ao mesmo tempo, compreendemos que nada na vida é permanente.

 

     Essa meditação é muito animadora pois nos ensina a desenvolver nosso próprio sentido de felicidade a partir de nós mesmos. Sempre remove a tralha da mente e nos leva ao que é realmente importante. É uma ótima maneira de começar o dia.

 

Trechos de livros

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