A necessidade de um guru humano (trecho de "O princípio do guru")

Uma pergunta surge com frequência aqui no Ocidente: uma pessoa pode alcançar a iluminação sem ter um relacionamento com um guru humano? Em outras palavras, não poderíamos fazer isso por nós mesmos, lendo, assistindo os ensinamentos, praticando o que é ensinado e assim por diante, sem nunca pedir orientação ou acompanhamento pessoal, pelo menos não de um determinado professor ou linhagem?

É possível que uma pessoa sinta que recebeu o adhishtana da mandala do despertar principalmente conectando-se ao princípio do guru de uma forma impessoal. Pode até sentir que essa é uma maneira mais direta de se relacionar com a essência suprema do Buddha (o dharmakaya). O poder de adhishtana dos buddhas não é onipresente e acessível a todos nós? Todos nós não temos a natureza búdica? Isso não quer dizer que tudo que precisamos fazer é confiar em nós mesmos? Não encontramos naturalmente o princípio do guru no mundo à nossa volta?

Há histórias de praticantes (pratyekabuddhas) que recebem o adhishtana dessa maneira. Parece que eles reconhecem a verdade por si mesmos, em si mesmos e no mundo à sua volta. Não precisam de um professor humano. Khenpo Tsultrim Gyamtso Rinpoche às vezes nos dizia que não precisávamos das suas bênçãos, pois tínhamos natureza búdica e, portanto, podíamos abençoar a nós mesmos. Tudo isso se tivéssemos uma conexão forte o bastante com a mandala do despertar em vidas anteriores. O perigo é que, tendo conexão e compreensão insuficientes, abençoaríamos a nós mesmos reforçando o apego ao ego.

No entanto, há muito a considerar neste ponto de vista. Se não tivermos escolha, o que em geral é o caso, então podemos percorrer um longo caminho praticando por conta própria, sem um guru para nos orientar. Ainda contamos com o guru em princípio, pois tudo o que lemos ou ouvimos e que nos ajuda em nosso caminho vem de alguma pessoa viva ou morta que corporifica esse princípio. Porém, é extremamente difícil, se não impossível, percorrer todo o caminho sozinho. Precisamos nos aproximar e nos abrir para a mandala do despertar, o que significa que ingressamos e nos tornamos parte integrante dela. Não nos iluminamos sozinhos como um indivíduo independente. Entendemos que somos um único com o despertar e todos os seres despertos, que nos atraem para eles e nos empoderam. Embora possamos argumentar que isso acontece naturalmente, então não há necessidade de procurar um guru, isso é o mesmo que dizer que como a água naturalmente sacia a nossa sede, então não há necessidade de encontrar uma fonte confiável de água para beber! Beber nessa analogia é como descobrir dentro de nós nossa capacidade de nos abrirmos e confiarmos no guru como “outro” (a água). Essa confiança é parte integrante do processo de abandonar nosso apego ao ego.

Lama Shenpen Hookham

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