Autobondade - autoabraço

A cultura ocidental enfatiza a importância de sermos gentis com nossos amigos, familiares e vizinhos que estão lutando na vida. Contudo, não nos ensina a adotar a gentileza conosco. Quando alguém comete um erro ou falha de alguma forma, tem mais propensão a bater em sua própria cabeça com um pedaço de pau do que a se abraçar em demonstração de acolhimento. Provavelmente até o pensamento de se autoconfortar parece absurdo. Mesmo quando nossos problemas decorrem de forças fora do nosso controle, a autobondade não é uma resposta culturalmente válida. Em algum lugar, ao longo da vida, recebemos a mensagem de que indivíduos fortes devam ser estoicos e silenciosos, capazes de controlar o seu próprio sofrimento – como John Wayne num filme do velho oeste. Infelizmente, essas atitudes roubam um dos nossos mecanismos mais poderosos de enfrentamento quando lidamos com as dificuldades da vida.

A autobondade, por definição, significa interromper o autojulgamento constante e os comentários depreciativos internos que a maioria de nós vê como algo normal. Ela nos obriga a compreender as nossas manias e fraquezas em vez de condená-las. Leva-nos a vermos com clareza os nossos limites para a autocrítica implacável, terminando, assim, a nossa guerra interna.

Mas, a autobondade é mais do que simplesmente parar com o autojulgamento. Também é a nossa capacidade de nos autoconfortarmos de forma ativa, agindo da mesma forma que faríamos com um amigo querido em sofrimento. Isso significa se permitir ser emocionalmente movido pela sua própria dor, parando tudo para dizer: “Está bem difícil agora. Como posso me cuidar e me confortar neste momento?” Com a autobondade, apaziguamos e acalmamos a nossa mente perturbada. Ofertamos a paz, a cordialidade, a gentileza e a simpatia de nós para nós mesmos, de modo que a verdadeira cura possa ocorrer.

Se a nossa dor é causada por algum passo errado que tomamos – esse é o exato momento de nos darmos compaixão. Lembro-me do que aconteceu no meu primeiro encontro com um menino pelo qual eu estava apaixonada quando estava no ensino médio. Estava um pouco resfriada, mas nem pensei muito nisso. A certa altura da conversa, enquanto eu falava e ria tentando exibir minha inteligência e meu senso de humor, ele me olhou meio de lado e levantou as sobrancelhas. Fiz uma pausa e perguntei qual era o problema, e ele respondeu: “Você está com meleca no nariz”.

Fiquei arrasada de vergonha e humilhação por semanas. Senti-me totalmente imperfeita e repeti isso várias e várias vezes a mim mesma. Eu gostaria de ter sabido na época o que sei hoje.

Em vez de nos maltratarmos incansavelmente quando estamos para baixo, mesmo que a queda tenha sido desastrosa, temos outra opção: podemos reconhecer que todos têm o seu momento de abrir mão de tudo para nos tratarmos com gentileza. Talvez não sejamos capazes de seguir em frente naquele momento, mas tentamos. Além disso, cair de cara no chão é uma parte inevitável da vida. Na verdade, uma parte bem honrosa.

Infelizmente, muitas pessoas acreditam que não devem ser gentis consigo mesmas, especialmente se receberam essa mensagem na infância. Mesmo os indivíduos que querem ser mais gentis e ficariam felizes em acabar com o seu tirano interior muitas vezes acreditam que essa mudança não seja possível. Por terem desenvolvido um hábito tão enraizado de autocrítica, não acreditam ser realmente capazes de exercitar a autobondade. Felizmente, no entanto, ser gentil consigo mesmo é mais fácil do que você pensa.

 

 

 

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