O maior desafio é lembrar

Trecho do livro "Reflexos em um lago na montanha":

Trazer o máximo possível a presença para as nossas tarefas ajudará a transformar nosso dia em um nível muito profundo. É fácil. O principal problema é que a mente está tão aprofundada em sua inércia, tão aprofundada no desejo de permanecer adormecida que esquecemos continuamente de ficar atentos. Na verdade, o significado da palavra atenção plena em sânscrito e tibetano é “lembrar”. É parecido com a ideia cristã de rememoração e o conceito de lembrança de si de Gurdjieff. Trata-se de lembrar de onde estamos, quem somos e do que está acontecendo no momento. Como a atenção plena é parecida com a rememoração, seu inimigo direto é o esquecimento. Muitas vezes falo para as pessoas sobre essa qualidade da atenção plena, e elas dizem: “Sim, parece bom. Vou tentar”. No dia seguinte tentam arduamente ficar mais conscientes no trabalho e com a família. Isso imediatamente acrescenta uma nova dimensão especial a suas vidas. As pessoas começam a notar e a comentar. “Uau, você está muito mais bacana. O que aconteceu?” Elas voltam e relatam o quanto a atenção plena é sensacional e o efeito maravilhoso que está tendo em todos os aspectos de suas vidas. Eu digo: “Ok, me fale sobre isso daqui a alguns meses”. Então, encontro com elas dali a uns seis meses e pergunto como vai a atenção plena. Em geral respondem; “Oh, esqueci totalmente disso!”.

 

 

Esse é o principal problema. Estamos tão acostumados a estar adormecidos que o esforço para acordar é muito árduo. No mais não há problema. Não requer tempo nem qualquer talento específico. Não requer que sejamos grandes gênios ou iogues ou que façamos anos e anos de treinamento avançado. No instante em que digo para vocês apenas ficarem presentes, apenas terem conhecimento do corpo nesse momento, vocês podem tomar conhecimento! A mente recua e, subitamente, vocês sabem o que o corpo está fazendo. Certo? É muito fácil. O maior desafio é lembrar. Se vocês estão aprendendo a tocar um instrumento musical, por exemplo, não começam o aprendizado tocando sonatas de Beethoven. No começo fazem exercícios bem simples, como escalas. Mas continuam praticando até a técnica finalmente se impor. Se seguem praticando, chegam a um ponto em que nem estão mais cientes da técnica. A música simplesmente flui de seus dedos para o instrumento.

 

 

Com a mente é a mesma coisa. Nossa mente está cheia de maus hábitos e precisamos reprogramá-la desenvolvendo bons hábitos. No começo é muito difícil e há grande resistência. Mas, se formos pacientes e perseverarmos, a consciência ficará cada vez mais forte. A mente gradualmente começa a entender o que significa estar ciente. Então, os momentos de consciência começam a se prolongar. Logo, um dia, quando nem estamos pensando nisso, no meio da confusão total, de repente ficamos totalmente presentes. Vemos tudo com clareza, ainda que internamente a mente esteja em silêncio. Porém, os comentários e julgamentos voltam a nos inundar e perdemos aquilo. Mas, com o passar do tempo, existem mais e mais desses momentos de clareza e silêncio interior em que realmente vemos as coisas e tudo fica muito vívido. É realmente um processo de despertar.

 

Abaixo, informações sobre o livro:

Trechos de livros

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