Lodro Rinzler, Guia do coração partido

Trecho do livro Guia do coração partido (clique aqui para comprar), selecionado para o setembro amarelo.

Quando Robin Williams se matou, decidi sair do armário como alguém que foi suicida no passado. Decidi finalmente dizer alguma coisa pela vigésima vez que ouvi alguém comentar: “Nunca pensei que alguém como ele faria uma coisa dessas”.

Quando dizem não conseguir imaginar “alguém como ele” cometendo suicídio, estão dizendo não conseguir imaginar como alguém aparentemente jovial, bem-sucedido e com a vida em ordem pode estar tão deprimido a ponto de encontrar no suicídio uma opção viável. Em outras palavras, pensamos que outras pessoas estão numa boa quando na verdade todos nós estamos sofrendo. Cada pessoa que você já encontrou está travando uma batalha neste momento. Com frequência é uma batalha interior – as pessoas estão engalfinhadas com o próprio medo, insegurança ou depressão. Às vezes é mais visível. Mas todo mundo está sofrendo por causa de alguma coisa; portanto, seja gentil com todos. Contudo, se você está sofrendo de depressão e/ou tem pensamentos suicidas, você sabe que é difícil cuidar de si ou dos outros.

Em 2012, após minha vida se desfazer sob vários aspectos, de fato fiquei suicida. Lá estava eu, autor de um best-seller budista, atuando como professor de meditação e convidado para falar em todos os tipos de lugares bacanas. Todavia, eu lutava com a perda da minha noiva, do meu trabalho e, o mais importante, de um dos meus melhores amigos. Eu estava devastado. Gostaria de poder dizer que levei essa porrada tripla de coração partido para a almofada de meditação, mas não consegui. Eu mal conseguia sair da cama.

Para me manter funcionando, comecei a me automedicar de modo destrutivo. Eu sabia que não era bom, mas a enormidade da minha depressão consumiu qualquer pensamento de cuidado pessoal e anulou a minha meditação regular. Não posso explicar o quanto a minha tristeza era abissal naquele período. Havia um telhado no qual eu subia todos os dias e cogitava saltar rumo ao chão. Me convenci de que meu primeiro livro estava ajudando as pessoas. Então talvez fosse uma boa ideia, antes de me matar, terminar o segundo livro que a editora havia pedido que eu escrevesse. Sentei e escrevi a segunda metade daquela obra. Isso me deu um propósito, e naquele breve período de tempo os amigos começaram a se tocar de que havia algo errado comigo e a perguntar como poderiam ajudar.

Lembro de um dia em que estava particularmente para baixo. Minha amiga Laura me convidou para jantar, mas eu não suportava ficar em um restaurante cercado de gente se comportando normalmente. Sentamos na grama de um parque das redondezas enquanto escurecia, com moradores de rua urinando por perto e os ratos começando a aparecer lentamente. Laura foi muito paciente comigo, pois eu não estava interessado em ir embora. Finalmente ela perguntou: “Você já pensou em se machucar?”. Rompi em lágrimas e em uma semana fui encaminhado para a terapia por ela e por outros amigos. Na semana seguinte voltei à almofada de meditação. Passados mais uns dias, comecei a comer regularmente. Logo depois finalmente tive uma noite de sono completa. Quero crer que as seções deste livro sobre como meditar, ou as seções “Se você acha que não consegue comer” e “Se você acha que não consegue dormir” vão ajudar, mas se você está significativamente deprimido pode precisar de mais ajuda do que o conteúdo aqui disposto. Pode ser que precise de terapia, medicação ou de ambas as coisas.

Sim, sou um grande defensor da meditação como ferramenta para você se relacionar plenamente com o seu coração partido. Dito isto, a meditação não é a cura absoluta para doença mental. O Buda nunca proferiu um discurso de “Não se ajude, continue a sofrer do seu desequilíbrio químico”. Se você tem uma doença mental, a meditação pode ser útil, mas deve ser considerada como um acréscimo e não como substituto à medicação prescrita.

Embora eu não sofra de depressão clínica, digo que minha vida teve uma virada por eu ter buscado ajuda. Os budistas não podem levar tudo para a almofada de meditação e esperar soluções. Quando a coisa fica difícil – difícil a ponto de você não conseguir se imaginar saindo da cama de manhã –, pode ser que precise de ajuda. E não deve sentir vergonha por buscá-la. Se mesmo remotamente você acha que está enfrentando uma depressão ou uma fase emocional fora de controle, a melhor forma de cuidar de si é buscar orientação profissional. Claro que pode ser através de um professor de meditação, mas um terapeuta pode se mostrar mais eficiente neste momento. A terapia em si pode ser usada como uma prática de atenção plena na qual você leva toda a sua atenção para o que está se manifestando em seu corpo e sua mente durante uma hora.

Por favor, não pense que você tem que passar sozinho pelas dores do coração partido. A meditação não exclui ou diminui o poder dos métodos terapêuticos. Eles são poderosos à sua maneira. Existem profissionais que podem trabalhar com você no manejo do sofrimento. Não tenha medo de buscar ajuda.

Quando fizer isso, talvez descubra que é nesse momento totalmente devastador de escuridão absoluta que você vai mudar. Você pode acabar com algumas cicatrizes no coração, mas algo de bom pode resultar disso também. Como disse Pema Chödrön certa vez: “Na realidade, quando você se sente deprimido, solitário, traído ou diante de quaisquer sentimentos indesejados, trata-se de um momento importante do caminho espiritual. É onde a verdadeira transformação acontece”. Não posso prometer que um dia você vá acordar e se sentir igual ao que era antes do ocorrido, mas posso prometer que a verdadeira transformação está acontecendo em você neste exato instante.

Só porque Robin Williams era um comediante, uma celebridade ou alguém que víamos como jovial não quer dizer que ele não estivesse lutando com demônios desconhecidos. Compartilho minha história nesta mesma linha: o fato de eu ter lutado com pensamentos suicidas não anula meus anos de experiência em meditação ou o entendimento dos ensinamentos budistas, mas mostra que sou humano e caí presa do sofrimento como todos nós. Você pode ter muita prática e ainda assim lutar como todos os outros. Robin Williams acabou tirando a própria vida. Tive sorte em buscar ajuda e não me sentir mais do jeito que me senti certa vez. De fato, aquela experiência apenas aprofundou a minha apreciação da prática da meditação e dos ensinamentos budistas. Minha vida foi transformada em vários aspectos. A sua também será.

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