Abaixo, um trecho do prefácio de Matthieu Ricard, em que ele explica a importância das práticas preliminares e as qualidades desse livro de Mingyur Rinpoche:
A combinação de testemunhos pessoais, com insights sobre a mente das pessoas e a entusiástica abertura para com o entendimento contemporâneo são algumas das características marcantes da inigualável facilidade com que Mingyur Rinpoche apresenta os ensinamentos mais profundos do Budismo, juntamente com questões relevantes para nosso mundo moderno. Em Transformando Confusão em Clareza, Rinpoche aplica essas maravilhosas habilidades. Ele nos oferece ensinamentos abrangentes sobre as práticas fundamentais, contendo instruções indispensáveis para realizar essas práticas de forma tradicional e autêntica. O que é muito especial, no entanto, é que essas instruções tradicionais são intercaladas com memórias inspiradoras, histórias de grandes mestres e insights íntimos do próprio caminho espiritual do Rinpoche, tornando, assim, os ensinamentos plenamente vivos.
É também significativo que, neste livro, Rinpoche tenha escolhido dar instruções extensivas sobre as práticas fundamentais, quando tantos praticantes hoje estão sedentos pelos chamados ensinamentos avançados. Porém, como Kyabje Dudjom Rinpoche (1904-87) escreveu: “O nascimento do significado da Grande Perfeição em seu fluxo mental depende dessas práticas fundamentais.”
Essa visão é consonante com a de todos os grandes mestres do passado. Drigung Jigten Gonpo (1143-1217), por exemplo, disse: “Outros ensinamentos consideram a prática principal mais profunda, mas aqui são as práticas preliminares que consideramos profundas.”
Para os leitores deste livro, esse fundamento sólido fará com que as práticas subsequentes fluam naturalmente. Sem as práticas fundamentais, por mais magníficas que as práticas subsequentes possam parecer, seu destino não é diferente de um castelo construído na superfície de um lago congelado. Assim como certamente o castelo afundará quando o calor da primavera chegar, as visões elevadas daqueles que julgam poder dispensar as práticas fundamentais entrarão em colapso assim que as circunstâncias externas se tornarem desafiadoras. Dilgo Khyentse Rinpoche (1910-91) disse muitas vezes: “É fácil ser um bom meditador quando estamos sentados ao sol com a barriga cheia. Quando confrontado com condições adversas o meditador é posto à prova.”